Ashtanga Yoga
Quando você ouve a palavra “Ashtanga”, o que vem à mente? Talvez você pense em uma sequência de posturas fluidas e desafiadoras, unidas por uma respiração profunda e rítmica. Ou talvez você se lembre dos oito passos, os ensinamentos filosóficos que são a base do Yoga como um todo. Na verdade, ambos estão certos. Ashtanga é uma tapeçaria ricamente entrelaçada de prática física e filosofia espiritual, e é isso que a torna tão fascinante.
Vamos juntos numa viagem mental?. Imagine, se você quiser, as montanhas majestosas do Himalaia, onde a tradição oral do Ashtanga Yoga tem sido passada de geração em geração. Em um desses picos, viveu um sábio chamado Patañjali, que há mais de 2.000 anos codificou o Yoga Sutra, um texto que descreve os oito passos ou “membros” (ashtanga em sânscrito) do Yoga. Esses passos são: Yama (conduta ética), Niyama (autodisciplina), Asana (postura), Pranayama (controle da respiração), Pratyahara (retirada dos sentidos), Dharana (concentração), Dhyana (meditação) e Samadhi (liberação).
No coração dos ensinamentos de Patañjali está a ideia de que, para alcançar a libertação espiritual, devemos seguir esses oito passos. Não é uma escalada rápida e fácil, mas uma jornada lenta e deliberada, cheia de altos e baixos. Mas oh, as vistas ao longo do caminho são incríveis! Cada passo nos leva a uma compreensão mais profunda de nós mesmos e do universo ao nosso redor.
Ashtanga, hoje!
Agora, voltemos ao presente e a uma forma de Yoga que muitos de nós conhecemos e amamos: Ashtanga Vinyasa Yoga. Este é um estilo dinâmico de Yoga popularizado por K. Pattabhi Jois no século XX, que é caracterizado por seis séries fixas de posturas ligadas pelo vinyasa, uma série de movimentos sincronizados com a respiração. Embora seja fisicamente desafiador, é a respiração constante, o olhar focado e a presença da mente que são os verdadeiros desafios.
Do jeito que está proposto, o Ashtanga Yoga de Pattabhi jois é provavelmente o melhor jeito de conectar posturas de yoga, de um modo que o progresso do praticante seja constante – não só para o corpo, mas para a mente. Isso é assim porque é indicado que a pessoa pratique todos os dias e progrida para as posturas mais difíceis assim que estiver pronta o que, fisicamente falando, promove uma rápida adaptação do corpo ao esforço e ao alongamento.
Com relação à mente, existem três elementos que fixam a concentração da pessoa de um modo muito eficaz no momento presente: a respiração, o foco do olhar, os bandhas e a contagem. A respiração em si é a respiração Ujjayi, feita com o ar arrastado na garganta, pelo fechamento da glote – pense em como seria se você quisesse exalar pela boca, querendo embaçar um vidro. Agora, tente fazer o mesmo som, só que respirando pelas narinas.
O foco do olhar nas posturas varia entre o centro das sobrancelhas, a ponta do nariz, os dedos dos pés ou das mãos. Esse foco constante não permite à mente vagar pela sala ou pelos pensamentos e é muito eficaz! Junto da contagem de 5 respirações em cada postura, é realmente muito difícil ficar viajando na maionese ou pensando na morte da bezerra!
Por último, temos os bandhas ou travas físico/energéticas que direcionam intenção e protegem o corpo. Os dois principais são: a contração do assoalho pélvico/períneo e o umbigo sugado para dentro. Juntos, esses bandhas dão extrema segurança ao corpo, mesmo nas posturas mais acrobáticas!
Mas… o que um ashtanga tem a ver com o outro!
Talvez você esteja se perguntando: “Como esses dois Ashtangas estão relacionados?” Bem, embora possam parecer diferentes à primeira vista, eles estão, na verdade, intimamente ligados. Ashtanga Vinyasa Yoga é uma prática física que nos ajuda a cultivar as qualidades necessárias para seguir os oito passos de Patañjali. Através das posturas, aprendemos autodisciplina e concentração. Através da respiração, aprendemos a controlar nossa energia vital. E através da meditação, começamos a retirar nossos sentidos e a nos mover em direção ao estado de Samadhi.
Então, da próxima vez que você pisar no tapete de Yoga, lembre-se disso: cada postura que você pratica, cada respiração que você toma, está te levando em uma jornada que vai muito além do físico. Você está caminhando pelos passos traçados por Patañjali há milhares de anos, explorando os recônditos mais profundos de sua própria natureza.
Se você é novo no Ashtanga, não se deixe intimidar pelo desafio. Sim, as posturas podem ser difíceis, e sim, a filosofia pode ser complexa. Mas é nesse esforço, nesse constante voltar-se para dentro, que encontramos o verdadeiro coração do Ashtanga. E acredite em mim, é um coração pulsante de beleza, de força e de um amor infinito.
Sem dor, sem resultado!
Arrisco dizer que, na realidade em que vivemos, as coisas estão fáceis demais, imediatas demais. Tudo é resolvido no apertar de um botão, no engolir de uma pílula. Isso traz vantagens? Com certeza! Ninguém gosta de ficar com febres ou dores no corpo, quando há um tylenol à mão! Porém, essas praticidades todas acabaram por criar uma atitude passiva e reduziu a resistência das pessoas ao desconforto. Qual o problema? as maiores transformações da vida estão além dos seus limites e para vencer esses limites é preciso foco, determinação e um pouco de sofrimento.
Então, seja você um yogi experiente ou alguém que está apenas começando, convido você a explorar o Ashtanga. Pratique as posturas, estude os sutras, mergulhe na rica tradição oral que foi passada através dos séculos. Deixe que a sabedoria do Ashtanga o inspire, desafie e, finalmente, transforme. Dor não é ruim, ela é uma mensageira, algo que orienta e ensina.
E lembre-se, a jornada do Ashtanga é uma jornada para o eu. Não há pressa. Não há destino final. Há apenas você, seu tapete e o som da sua própria respiração, guiando-o através das posturas, através dos oito passos, através das maravilhosas paisagens do seu próprio ser.
Então respire. Pratique. E veja onde o Ashtanga pode te levar.