“Hatha Yoga” o que é?
Hatha, Vinyasa, Ashtanga, Iyengar, Integral… é nome que não acaba mais!
Como entender essa bagunça e colocar uma certa ordem na casa?
Bom, falando de forma super simples e direta, o Hatha Yoga – hoje – é uma das modalidades mais praticadas e conhecidas do yoga. É uma prática que busca equilíbrio entre o corpo e a mente através de posturas físicas (asanas), exercícios respiratórios (pranayamas) e técnicas de meditação.
Se está parecendo que, com essa explicação, não dá pra diferenciar um estilo do outro e fica tudo muito parecido… você tem razão! O que acontece é que o Hatha Yoga é a origem dos outros estilos que temos hoje e, na real, quando surgiu, não existia esse lance de “estilo”.
Vamos então entender isso um pouco melhor?
Hatha Yoga – O sol, a lua e os opostos
Segundo algumas fontes, a palavra “hatha” é uma combinação de duas sílabas sânscritas, “ha” que significa sol e “tha” que significa lua. Essa combinação representa a união dos opostos, do masculino e do feminino, do ativo e do passivo, do yin e do yang. Mais importante do que os opostos em si, no entanto, está a idéia de que, para juntar dois extremos, é preciso esforço e esse, sim, é um princípio fundamental do Hatha Yoga: esforço, disciplina, compromisso.
O Hatha Yoga tem suas raízes nas tradições do Yoga antigo – que tinha muito a ver com o hinduísmo -, mas se desenvolveu como uma prática separada durante o período medieval (depois do século VI). Os praticantes de Hatha Yoga acreditavam que a purificação do corpo era um passo essencial para atingir a iluminação espiritual, já que ele nos prende a esse mundo, nos conecta a ele e, por isso, precisa ser um canal adequado.
E se isso já era verdade pra eles, há 1.500 anos, comendo espinafre, dormindo cedo, acordando com o sol… imagina hoje, com Netflix e pizza de quatro queijos na veia?
Uma das principais escolas de Hatha Yoga foi a dos “nathas”, uma ordem ascética que surgiu no norte da Índia no século XI. Os nathas acreditavam que o corpo humano era um microcosmo do universo e que através da prática do Hatha Yoga, era possível equilibrar as energias internas e alcançar a união com o divino.
Por que menciono uma ordem antiga que quase ninguém conhece?
Eles são a primeira razão pela qual a nossa aula de yoga de cada dia tem a cara que tem!
De onde vêm as posturas, respirações, bandhas que eu conheço?
A gente entra num studio de yoga e começa a praticar sem muita explicação da recepcionista ou mesmo da professora. E, ok, a coisa dá certo! Em pouco tempo a gente está bem melhor, física e mentalmente.
Mas, sério mesmo: você nunca parou pra pensar de onde vem esse monte de posturas, respirações, contrações e ativação de partes inesperadas do corpo (bandhas)? Pois é!
Os nathas foram responsáveis por sistematizar e registrar muitas das técnicas de Hatha Yoga que ainda são praticadas hoje, incluindo as posturas físicas (asanas), os exercícios respiratórios (pranayamas) e as técnicas de controle dos músculos do assoalho pélvico, da barriga, do pescoço (bandhas).
É preciso lembrar das suas aulas de história nesse momento – a Índia foi invadida diversas vezes e dominada, militar e culturalmente, direto!
Numa dessas, ali pelos séculos XV-XVII, o conhecimento do Yoga corria sério risco de ser perdido. Até então, por incrível que pareça, quase ninguém tinha tido a idéia de escrever num livro as técnicas que hoje usamos numa aula de yoga. Aí, graças aos nathas tudo mudou – graças à obra “Hatha Yoga Pradipika”, escrita pelo yogi Svatmarama, e diversas outras que vieram depois como “Gheranda Samhita” e “Shiva Samhita”.
Mas, assim, não vai se empolgando, não, porque nesses textos não têm as 900 posturas que hoje o pessoal faz por aí. Boa parte delas foi agregada posteriormente, já no séc. XVIII-XIX de exercícios de calistenia e treinamento militar do exército.
“Tá, tá! Mas e os estilos, o Hatha Yoga que eu conheço?”
Calma, chegamos lá, já!
Do século XIX pra cá, começou a acontecer uma troca muito mais intensa de conhecimento entre a Índia e o resto do mundo. As viagens e treinamentos se tornaram mais comuns e começou a afluir uma quantidade maior de pessoas que faziam essa transferência de conhecimento do Yoga, do oriente para o ocidente. Além disso, um figura central no século XIX-XX meio que ditou o que iria acontecer com o Yoga na era contemporânea… ele é a segunda razão pela qual a sua aula de yoga tem a cara que tem.
Se o Hatha Yoga te interessa, vale ler um pouco sobre Tirumalai Krishnamacharya, que, segundo consta, inventou (ou pelo menos influenciou grandemente) o yoga que é praticado atualmente, na salinha do seu studio/academia. E, assim, tempo ele teve – o sujeito viveu mais de 100 anos!
Ele foi um dos primeiros a enfatizar as posturas, organizar sequências, atribuir valor terapêutico a asanas específicos, e combiná-los com pranayamas. A influência de Krishnamacharya é vista com mais clareza na ênfase dada à prática de asanas, que hoje é a “cara” do yoga (o Instagram que o diga!).
Então, você pode até não ter ouvido falar dele, mas o trabalho de 3 dos seus quatro discípulos principais você conhece – Pathabi Jois, criou o Ashtanga Vinyasa, T.K.V. Desikachar (seu filho), criou o Vinyoga, e B.K.S. Iyengar, criou o adivinha!… Iyengar!
Então, uma parte do pessoal que ia e voltava da Índia entrava em contato com esse Yoga começou a achar que era uma boa idéia batizar o seu método de ensinar posturas com nomes diversos. E essa prática nunca mais parou – às vezes parece que a cada seis meses aparece um estilo de yoga novo!
E assim, temos esse monte de modalidades, ashtanga, vinyasa, power, Iyengar, e muitas mais… e tem também o pessoal que resolveu não botar um nome novo na parada – o pessoal do Hatha Yoga. Hoje, ele é visto como o estilo mais tradicional, mas isso não é necessariamente verdadeiro. Existem inúmeras vertentes e a forma de cada professor ministrar as posturas acaba fazendo muita diferença em como a aula se desenvolve.
Quer uma coisa que é certa?
Se você entrar numa aula de Vinyasa e derivados (ashtanga, power, flow), a condução das posturas será rápida e sincronizada com a respiração, haverá pouca retenção nos asanas e quase nunca haverá meditação.
Já numa aula de Hatha Yoga e derivados (integral, ying, Iyengar, vinyoga), as posturas se darão em séries mais lentas, sem preocupação com o fluxo entre elas e a permanência em cada uma será muito maior. Provavelmente haverá mais espaço para as respirações e a meditação.
Por essas razões, o Hatha Yoga é geralmente indicado como o estilo ideal para os iniciantes!
E quais os benefícios do Hatha Yoga?
A prática do Hatha Yoga traz inúmeros benefícios comprovados para a saúde física e mental. Pesquisas mostram que a prática regular pode melhorar a postura, aumentar a flexibilidade, fortalecer os músculos e reduzir a dor nas costas. Além disso, a prática de Yoga também pode ajudar a diminuir os níveis de estresse e ansiedade, melhorar a qualidade do sono e aumentar a sensação de bem-estar.
Um estudo publicado no Journal of Bodywork and Movement Therapies mostrou que a prática do Hatha Yoga pode melhorar a postura e diminuir a dor nas costas em pessoas que passam longas horas sentadas em frente ao computador. Outra pesquisa publicada no International Journal of Yoga mostrou que a prática do Hatha Yoga pode melhorar a flexibilidade em idosos.
A prática do Hatha Yoga também tem se mostrado eficaz no tratamento de distúrbios psicológicos, como o estresse e a ansiedade. Uma revisão sistemática de estudos publicada no Journal of Clinical Psychology mostrou que a prática de Yoga pode reduzir os sintomas de ansiedade em pessoas com transtornos de ansiedade. Além disso, um estudo publicado no Journal of Psychiatric Practice mostrou que a prática do Hatha Yoga pode ajudar a melhorar o humor e a qualidade do sono em pacientes com depressão.
Ainda outro estudo da Universidade de Harvard confirmou que meia hora de meditação e yoga por dia não só tem impacto brutal na diminuição do stress e ansiedade, como altera fisicamente o seu cérebro para que essas mudanças sejam mais permanentes!
Tá bom ou quer mais?
E isso só para citar os benefícios físicos e psíquicos! Mas, vale lembrar que o Yoga é um estilo de vida que atinge, principalmente, as questões espirituais. Perguntas sobre quem somos, por que estamos aqui, onde achar a felicidade que tanto busco… essa é a verdadeira especialidade do Yoga. Ele é um perfeito manual de instruções pra vida e seus efeitos vão muito além do tapetinho e da sala de prática!
Resumindo?
Yoga é tudo de bom!
Tem que praticar e vivenciar para saber!!