Yoga – de onde vem, pra onde vai
Você já parou para se perguntar de onde você ouviu falar em Yoga pela primeira vez? Quero dizer, se é que você é uma das milhares de pessoas que, quase diariamente, suam a camisa em cima de uma tapetinho em alguma academia ou studio e isso realmente importa para você. Hoje, somos bombardeados aqui no ocidente por revistas, cds e programas de TV falando coisas relacionadas sobre o assunto, e , de repente, todo mundo é um especialista. Atores, modelos, cantoras, terapeutas, professores e entendidos no assunto nos dão dicas e recomendam isso e aquilo de acordo com sua própria experiência. Tudo certo, mas será que eles são a única fonte que temos de onde beber? Afinal, de onde veio originalmente todo este conhecimento?
O que reconhecemos aqui, no mundo moderno, como Yoga já ficou tão distante do original que ficou difícil saber do que ele se tratava realmente. Portanto, para botar uma certa ordem na casa, é preciso voltar milhares de anos no passado e olhar em direção aos Vedas, por que é lá que esta palavra – Yoga – está registrada primeiro.
Os Vedas são os “textos” tradicionais sagrados da Índia que contém as bases do que hoje chamamos de hinduísmo. Aspas ali, pois no começo este era um conhecimento que era estritamente oral e não foi escrito até meados do século XVIII, apesar de sua origem remontar a pelo menos cinco a seis mil anos antes de Cristo. Acredita-se que os mantras que compõem os Vedas foram recebidos pelos antigos sábios do passado – chamados “rishis” – e que, portanto, foram captados da natureza, da ordem reinante no Cosmos, ou, se quisermos ser mais diretos, daquilo que deu origem a todo este universo e que muitas pessoas chamam de Deus.
À parte sua origem, o que e importante a respeito dessas escrituras é que seus mantras falam da relação entre o ser humano e o resto do mundo. Desta forma, os Vedas munem o indivíduo de tudo o que ele necessita para transitar belamente por este planeta e suas criaturas. Assim, para que ele obtenha saúde, prosperidade, fama e tudo o mais que ele possa querer para a vida material, são prescritos rituais e preces. E para a vida espiritual – o questionamento de “quem somos nós?”, “para onde vamos?” e “qual o sentido da vida?” – são oferecidas respostas.
Tudo isto, no contexto de um sujeito que vivia lá pelo século VIII aC , compunha uma vida de Yoga – uma vida contemplativa voltada para o autoconhecimento.
Problema – não é possível simplesmente pegar um Veda e sair lendo (ou ouvindo). Sua composição altamente poética e frases codificadas impedem o correto entendimento do que está contido ali. É por isso que, até mesmo hoje, na India se dá muito valor pela transmissão do conhecimento da linha ininterrupta de ensinamento entre mestre-discípulo.
Passados alguns séculos – mais precisamente a partir dos 1.200 aC em diante – começaram a ser compostos textos e histórias que reorganizavam o pensamento Védico e que procurava passar o conhecimento à frente na forma de histórias e lendas – eram as chamadas Puranas. É lá que os já célebres Brahma (o Criador), Vishnu (o mantenedor) e Shiva (o destruido) se estabelecem como as deidades mais importantes do hinduísmo. É desse período também textos como a Bhagavad Gita e o Ramayana, dos quais muita gente já ouviu falar.
Com o tempo, alguns mestres e gurus que beberam dessas fontes começaram a compor obras que pudessem registrar o conhecimento do Yoga numa forma mais acessível e assim teve origem a literatura de Sutras. Quem está no meio do Yoga há um certo tempo já provavelmente ouviu falar dos “Yoga Sutras”, por exemplo – a obra composta pelo mestre Patanjali, lá pelo século IV aC. Não que entender um sutra seja fácil, afinal, ele é, por definição, uma frase extremamente concisa contendo uma grande quantidade de informação e escrita de forma poética. Mas, já é um passo à frente da complexidade original dos Vedas.
Conforme avançamos em direção à idade média, alguns mestres mais modernos resolvem colocar suas ideias no papel – nascem então os textos conhecidos como “Prakarana Grantha”, ou seja, textos auxiliares para o entendimento do conhecimento tradicional do Yoga. Um exemplo disto é o texto conhecido como “Tattva Bodha”, do mestre Shankara do século XIX dC ou “Upadesha Saram” de Ramana Maharishi, já do século XIX, entre muitos outros.
Ufa! É muita coisa! Por onde começar?
Com certeza, para se ter uma boa noção sobre as bases do Yoga, hoje em dia, é necessário referir-se a estes últimos – textos preparatórios, de mestres com renome na Tradição. Como escolher entre eles? Aí, bem… Você realmente vai ter de confiar na perspectiva de alguém que está há mais tempo no caminho do que você e que inspire o seu respeito.
Provavelmente não nos conhecemos, mas mesmo correndo o risco de me contradizer, sugiro alguma leitura para aqueles que querem começar a se aventurar pelo mundo do yoga, digamos, ” de raiz”.
Assim, para nos valer de um nome nacional, vale a pena dar uma olhada no livro da professora Gloria Arieira que traduz e comenta o “Tattva Bodha” e, num contexto mais clássico, também é excelente a obra de Swami Dayananda Saraswati chamada de “Introdução ao Vedanta”.
Boa leitura!