Qual a origem do Yoga?

O yoga é uma prática milenar, cujas raízes se estendem profundamente na antiga história da Índia. Mais do que apenas uma série de posturas físicas, o yoga é uma filosofia de vida que busca resolver a principal questão humana – a busca pela felicidade. Surgido há milhares de anos como parte das tradições espirituais e religiosas do hinduísmo, o yoga evoluiu com o passar do tempo e hoje é uma prática globalmente reconhecida e respeitada (e acabou ficando um pouco zoada também…). Mas, afinal… qual a origem do yoga?

Neste texto, vamos explorar como o yoga começou como uma prática mística e foi se transformando ao longo dos séculos até se tornar o que conhecemos hoje. Vamos ver como diferentes mestres e escolas influenciaram essa jornada e como, no século 19, o yoga ganhou ainda mais popularidade ao ser levado para o Ocidente.

Aperte os cintos aí e vamos ver também, além de qual a origem do yoga antigo, o surgimento do yoga moderno e suas variações não muito desejáveis… (se essa parte chamou sua atenção, ela está no último parágrafo!)

 

Os Vedas: Qual a origem do yoga?

O conceito de yoga foi primeiramente mencionado nos Vedas, os textos sagrados mais antigos da Índia, que datam de mais de 3.000 anos atrás. Os Vedas consistem em quatro coleções principais: Rigveda, Samaveda, Yajurveda e Atharvaveda. Nesses escritos, o yoga era apresentado como um conjunto de rituais e práticas destinados a purificar o corpo e a mente, facilitando assim uma maior conexão espiritual.

Uma das primeiras referências claras ao yoga está no Rigveda, que menciona práticas como meditação e cânticos (mantras) para alcançar estados elevados de consciência. Nestes textos, o yoga é frequentemente associado a rituais de sacrifício e práticas meditativas que tinham como objetivo estabelecer uma conexão mais profunda com os deuses e o universo. 

Além dos Vedas, as Upanishads – textos filosóficos que surgiram mais tarde como um desdobramento dos Vedas – também contribuíram para a formação do yoga. Eles introduziram ideias sobre como “atman” (o eu individual) e “Brahman” (a base do universo, o absoluto) são uma coisa só. Foi nas Upanishads que o conceito de “moksha” (libertaçãodo sofrimento) ganhou destaque, dando ao yoga um propósito mais filosófico e espiritual.

Nesta fase inicial, o yoga era principalmente uma prática espiritual, centrada na busca de paz interior, conhecimento profundo e liberdade do ciclo de nascimento e renascimento. Apesar das variações na prática ao longo dos séculos, o objetivo de atingir a união entre corpo, mente e espírito permanece no cerne do yoga até hoje.

Mas, ok… qual a origem do yoga que conhecemos hoje?
Calma, cocada! A gente já vai chegar lá!

 

Qual a origem do Yoga – O Yoga Sutra de Patanjali (Yoga clássico)

Por volta do segundo século, o sábio Patañjali compilou os Yoga Sutras, um texto que se tornou um dos mais influentes na prática do yoga. Considerado o “pai do yoga clássico”, Patanjali organizou e sistematizou o yoga em oito “membros”, chamados de ashtanga (ashta = oito, anga = membros), fornecendo uma estrutura clara para a prática e o estudo.

O Yoga Sutra de Patanjali é composto por 196 aforismos, ou “sutras”, que descrevem o caminho para alcançar a iluminação e a liberdade do sofrimento. Sua sistematização do yoga forneceu uma estrutura sólida que ainda influencia a prática moderna, estabelecendo as bases para o Hatha Yoga e outras formas contemporâneas.

Patanjali não foi apenas um compilador de conhecimentos antigos, mas também um visionário que moldou a forma como entendemos e praticamos o yoga até hoje. Grande parte do yoga moderno tem suas raízes aqui!

Os oito membros do yoga segundo Patañjali são:

  1. Yamas (Normas Éticas): São princípios morais que guiam o comportamento com os outros. Eles incluem:
    • Ahimsa (não-violência)
    • Satya (veracidade)
    • Asteya (não roubar)
    • Brahmacharya (moderação)
    • Aparigraha (não possessividade)

  2. Niyamas (Disciplinas Pessoais): Referem-se a práticas que ajudam no crescimento pessoal e na autodisciplina. Eles incluem:
    • Saucha (pureza)
    • Santosha (contentamento)
    • Tapas (austeridade)
    • Svadhyaya (estudo de si mesmo e dos textos sagrados)
    • Ishvara Pranidhana (entrega ao divino)
  3. Asanas (Postura): Referem-se às posturas físicas que preparam o corpo para a meditação, mantendo-o estável e confortável. Embora originalmente tivessem um foco meditativo, as pessoas hoje praticam como exercício físico.
  4. Pranayama (Controle da Respiração): Técnicas de respiração que ajudam a controlar a energia vital (prana) e a mente.
  5. Pratyahara (Retração dos Sentidos): O ato de voltar a atenção para dentro, retirando os sentidos do mundo exterior.
  6. Dharana (Concentração): Foco intenso em um único ponto ou objeto, preparando a mente para a meditação.
  7. Dhyana (Meditação): Um estado de fluxo contínuo de atenção sem esforço, onde a mente é mantida focada sem distrações.
  8. Samadhi (União com o Divino): O estado final de meditação, onde o praticante experimenta a união com o divino e transcende o ego.

Período Pós-Védico e Clássico:

Ao longo dos séculos, o yoga evoluiu e se diversificou em várias escolas e tradições. A prática, que começou como um conjunto de rituais e meditações nos tempos védicos, foi moldada e influenciada por inúmeros mestres e sábios ao longo do tempo. Nem sempre esse resultado foi positivo, como veremos a seguir…

Além dos Yoga Sutras de Patanjali, surgiram outros textos influentes que continuaram a expandir a prática do yoga:

  • Bhagavad Gita: Este texto, parte do épico Mahabharata, oferece um guia prático para o yoga, destacando diferentes caminhos como o Karma Yoga (yoga da ação), Bhakti Yoga (yoga da devoção) e Jñana Yoga (yoga do conhecimento). Estima-se que sua versão mais conhecida tenha cerca de 2.500 anos
  • Hatha Yoga Pradipika: Escrito por Swami Svatmarama no século 16, este texto é uma referência central para o Hatha Yoga, focando na purificação do corpo através de posturas físicas (asanas) e técnicas de respiração (pranayama).

Na Idade Média, mestres como Adi Shankaracharya influenciaram profundamente a prática com seus comentários e ensinamentos. Shankara foi um dos grandes defensores do Advaita Vedanta, uma filosofia que defende a unidade do “eu” individual (atman) com a alma universal (Brahman). Essa idéia é central, na verdade, ao conhecimento do Yoga – sem ela, a prática simplesmente não funciona.

Para entender isso, imagine jogar sinuca sem o objetivo de encaçapar nenhuma bola: elas somente vão quicar de um lado pro outro, sem nenhum propósito. Sem a idéia de que a resposta para o sofrimento humano é encontrada na natureza fundamental de cada ser, as posturas, respirações e até as meditações se tornam meros exercícios esquisitos.

Você já consegue ver qual a origem do yoga atual? Senão, observa a seguir

Qual a origem do yoga dos Séculos 19 e 20?

No século 19 e início do século 20, o yoga começou a ganhar popularidade no Ocidente, graças a mestres como Swami Vivekananda, que introduziu o yoga nos Estados Unidos e na Europa durante o Parlamento das Religiões do Mundo em 1893, em Chicago. Sua eloquência e clareza ao apresentar o yoga como um sistema filosófico e prático conquistaram a atenção do público ocidental.

Outros mestres que contribuíram muito para o crescimento do yoga incluem:

  • Paramahansa Yogananda: Autor de Autobiografia de um Iogue e fundador da Self-Realization Fellowship, ele popularizou o Kriya Yoga no Ocidente.
  • Tirumalai Krishnamacharya: Conhecido como o “pai do yoga moderno”, Krishnamacharya foi mentor de influentes mestres como B.K.S. Iyengar (fundador do Iyengar Yoga), Pattabhi Jois (fundador do Ashtanga Yoga) e Indra Devi.
  • B.K.S. Iyengar: Desenvolveu o método Iyengar Yoga, focado na precisão das posturas e no uso de acessórios.
  • Pattabhi Jois: Criador do Ashtanga Vinyasa Yoga, um estilo dinâmico que combina respiração e movimento.
  • Swami Sivananda: Fundador da Divine Life Society, escreveu mais de 200 livros sobre yoga e espiritualidade. 

O Yoga nos Tempos Modernos:

Hoje, milhões de pessoas praticam yoga mundialmente. Estilos contemporâneos como o Vinyasa Flow, Power Yoga e Bikram Yoga refletem tanto as raízes tradicionais quanto adaptações modernas para atender às necessidades contemporâneas.

Isso não é realmente positivo, pois cada adaptação acaba deixando pra trás algo da essência do Yoga e dá margem para que cada vez mais modificações sem nenhum sentido apareçam, tais como: yoga com cabras, com cavalos, yoga com cerveja, com bebês, com cachorrinhos, gatos, yoga aquático e até com artes marciais. Observação – todos esses estilos que citei são verdadeiros. Pode jogar no google aí!

Acaba que o Yoga se tornou vítima de um pensamento que tem profundos reflexos negativos em nossa mente: como eu posso tornar isso mais divertido? mais rápido? como eu posso facilitar esse processo, de repente colocando uma música ou um filme?

 

Qual a origem do Yoga e sua evolução deixam de reflexão?

Talvez a pergunta que deveríamos estar nos fazendo é: o que tem de errado com a forma antiga de praticar? Só você, uma sala, um tapete e mais nada?
É difícil? Ótimo! É desafiador? Dá medo? Melhor ainda!
O fato de estarmos pegando muito leve com nossas próprias mentes gera esse mundo que hoje temos diante dos olhos, cheio de pessoas com ansiedade, transtorno de atenção e hiperatividade, atacadas por tristeza e falta de propósito crônicas.

Já está na hora de fazer o caminho contrário e disciplinar a mente e o corpo. Deixar tudo solto a gente já viu que não está dando resultado. E, para isso, o Yoga é excelente. Mas, em suas raízes, não nessas versões nutella que temos por aí.

Quer ver em forma de vídeo?

 

Quer ver qual a origem do yoga direto no YouTube? – https://youtu.be/_Au6AxJKGf0?si=KRhpQjEupgLisxrI 

Leandro Castello Branco
Leandro Casttelo Branco

Leandro Castello Branco, coordenador do Saraswati Studio de Yoga no Rio de Janeiro, vive o Yoga há mais de duas décadas. Morou seis meses na Índia em 2006 e desde então teve a oportunidade de viajar estudando vedanta, yoga e meditação com diversos mestres como Swami Dayananda Saraswati, S.S. o Dalai Lama e o mestre zen Thich Nhat Hanh. É autor do "Guia Prático para o Coração do Yoga", que chegou a ser um dos mais vendidos da Amazon/Kindle na categoria "Saúde e Família" e hoje já formou mais de 520 professores de Yoga. Em 2017 iniciou um trabalho online que já impactou centenas de milhares de pessoas em cursos, workshops e palestras.

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